Quase todos os adultos solteiros (jovens, maduros, homens, mulheres, hetero, homossexuais) que já atendi falam sobre seu desejo de ter um relacionamento estável, mas também quase todos relatam a dificuldade de engatar um relacionamento, parece existir uma certeza de que ninguém quer nada com nada. As pessoas se conhecem, saem algumas vezes, “ficam” e parece que está tudo caminhando, mas de repente o interesse não é mais o mesmo e uma das partes some. O que fica é a sensação de insegurança, de dúvida, de achar que fez algo errado, que não é interessante o suficiente, o que fica é a dúvida com relação ao próprio valor.
Então, me pergunto: Se a maioria das pessoas quer um relacionamento, por que não estão se encontrando para colocar em prática o plano que têm em comum?
Como parece que essa conta não fecha, vale analisar alguns pontos.
Vivemos numa época em que tudo é muito fácil, o mundo está em nossas mãos, paciência não tem sido o forte das pessoas. E o fácil se transforma em descartável, celular, carro, roupa, casa, viagem, TV, enfim, compro e se não gostar, troco, se daqui a pouco surgir modelo melhor, troco e, talvez, esse comportamento está se estendendo para as relações também.
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, usava o termo “modernidade líquida” para representar o movimento social atual. Com o termo líquido, fez alusão ao fluído, ao adaptável, o líquido sofre mudanças constantes e não se mantém da mesma forma por muito tempo. A sociedade contemporânea é exatamente isso, tudo é rápido, tudo precisa estar em constante mudança, nos é exigido o movimento constante, dentro de padrões definidos de felicidade, sucesso, beleza, status.
Nos relacionamentos amorosos o mesmo tipo de comportamento aparece. Construir um relacionamento dá muito trabalho, são necessárias etapas para que se solidifique, para que atinja o ponto de estabilidade e pelo que tenho visto, mesmo querendo ter essa pessoa junto de si, não estamos conseguindo passar pelo processo todo. As relações estão se tornando tão descartáveis quanto a compra de um aparelho eletrônico, esperamos resultados imediatos e perfeitos e se não for assim, não vale a pena manter.
Construir um relacionamento amoroso é um processo de dar e receber, de entender e ser entendido, de cuidar e ser cuidado. É um caminho de mão dupla, precisa de dois engajados para dar certo e se uma das partes não consegue lidar com o imperfeito, com as diferenças, fica só a ilusão que é mais fácil partir para o próximo encontro, mais alguns matches e quem sabe o amor vai aparecer sem nenhum trabalho.